Disquete: como essa relíquia guardava dados e quanto cabia?

Feche os olhos e tente lembrar do som inconfundível de um computador dos anos 1990 em ação. Além dos bipes de inicialização, há outro ruído que transporta qualquer pessoa de volta para aquela época: o característico “clique-clique-whirr” de um drive de disquete funcionando. É, literalmente, o som da tecnologia funcionando, dos dados sendo salvos, dos programas carregando. É a trilha sonora de toda uma era da computação.

Por décadas, o disquete foi o companheiro inseparável de estudantes transportando trabalhos escolares, de escritórios compartilhando documentos e de toda uma geração descobrindo o poder dos PCs. Cada pequeno quadrado de plástico carregava a promessa de que os dados mais preciosos estariam seguros, transportáveis e acessíveis sempre que necessário.

Para compreender a dimensão da revolução digital que vivemos hoje, é imprescindível revisitar tecnologias do passado, que pavimentaram o caminho para a atual era da informação. O disquete foi protagonista de uma transformação que mudou a forma como trabalhamos, nos comunicamos e vivemos — e entender seu funcionamento nos ajuda a valorizar a evolução tecnológica que presenciamos nas últimas décadas.


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Origem e evolução do disquete

A história do disquete começou em 1967, e não como um produto destinado ao grande público, mas como uma solução para um problema específico da IBM. Alan Field Shugart, engenheiro mecânico que havia trabalhado no projeto RAMAC — o primeiro disco rígido da história —, liderava uma equipe com uma missão aparentemente simples: criar um dispositivo que pudesse carregar rapidamente o microcódigo nos mainframes IBM 370.

Quase do tamanho de uma capa de vinil, disquete de 8 polegadas revolucionou o armazenamento portátil com 80 KB de capacidade (Imagem: Reprodução/CuriousMarc)

O Shugart e a IBM não imaginavam é que estavam criando o futuro da computação pessoal. Em 1971, quando o primeiro disquete de 8 polegadas foi apresentado ao mundo, ele oferecia modestos 80 KB de capacidade — o equivalente a uma caixa inteira de cartões perfurados. Para os padrões da época, foi algo impressionante: pela primeira vez, era possível carregar um sistema operacional completo sem precisar empilhar centenas de cartões perfurados.

A evolução do disquete sempre balanceou três necessidades: maior capacidade, menor tamanho e maior confiabilidade. Em 1976, a Shugart Associates — empresa fundada pelo próprio Alan Shugart após deixar a IBM — lançou o disquete de 5,25 polegadas. Este formato reduziu significativamente o tamanho físico do disquete e também o tornou muito mais barato de produzir.

Os disquetes de 5,25 polegadas rapidamente se tornaram o padrão da indústria, especialmente após o lançamento do IBM PC em 1981. No entanto, sua superfície magnética ficava exposta, tornando-o vulnerável a poeira, impressões digitais e danos físicos. Era comum ver usuários cuidando de seus disquetes como se fossem relíquias preciosas.

Em 1984, chegou aquele que seria o formato definitivo: o disquete de 3,5 polegadas. Desenvolvido inicialmente pela Sony, ele revolucionou mais uma vez o conceito de armazenamento portátil. Sua capa rígida de plástico protegia o disco magnético interno, enquanto uma pequena aba metálica deslizante se abria automaticamente quando inserida no drive — resolvendo todas as questões do formato anterior.

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Com capacidade inicial de 720 KB, os disquetes de 3,5 polegadas evoluíram rapidamente para os famosos 1,44 MB em sua versão HD (High Density). Alguns modelos posteriores chegaram a impressionantes 2,88 MB de capacidade na versão ED (Extra Density), embora ela nunca tenha alcançado popularidade comercial significativa. Durante os anos 1990, mais de 5 bilhões de disquetes de 3,5 polegadas eram produzidos anualmente, uma prova de que o formato estava mais do que consolidado e havia se tornado o padrão universal de armazenamento removível.

Em resumo, temos:

  • O pioneiro de 8 polegadas: Grande e desajeitado para os padrões posteriores, armazenava apenas 80 KB
  • O popular 5,25 polegadas: Mais comum em computadores domésticos dos anos 1980. Sua capacidade variava, mas o formato mais popular foi o de 360 KB — bem menos que qualquer foto de alta resolução atual.
  • O compacto 3,5 polegadas: Este se tornou o padrão nos anos 1990, mais rígido e protegido. Sua capacidade mais comum era de 1,44 MB. Para instalar um programa maior, era comum usar uma sequência de vários disquetes. Hoje, o Windows 11 ocuparia mais de 18 mil desses disquetes.
Armazenamento portátil evoluiu drasticamente nos últimos 50 anos e hoje sequer precisamos de um pen drive (Imagem: Reprodução/Pamporoff)

Por dentro da “caixinha mágica”: como o disquete funcionava

Abrir um disquete — embora não fosse recomendado — revelava uma engenharia surpreendente. No coração do dispositivo estava um disco magnético fino e flexível, feito de substrato plástico revestido com óxido de ferro. Este material ferromagnético tinha a capacidade quase mágica de “lembrar” informações através de minúsculas alterações em sua estrutura magnética.

O disco magnético girava livremente dentro de sua capa protetora, forrada internamente com um tecido especial que constantemente removia partículas de poeira. Uma abertura cuidadosamente posicionada permitia que as cabeças de leitura/escrita do drive acessassem a superfície magnética sem comprometer a proteção do disco.

Interior de um disquete de 3,5 polegadas: disco magnético flexível gira sobre anel de papel que previne acúmulo de poeira e partículas (Imagem: Reprodução/kayfabejason, reddit)

Quando você inseria um disquete no drive, iniciava-se uma dança mecânica de altíssima precisão. O sistema de alavancas do drive abria automaticamente a proteção metálica dos disquetes de 3,5 polegadas, enquanto o motor começava a girar o disco a uma velocidade constante. Era neste momento que o som característico do disquete se fazia ouvir — o “whirr” do motor combinado com os “cliques” das cabeças de leitura se posicionando.

As cabeças de leitura/escrita — geralmente duas, uma para cada face do disco — tocavam delicadamente na superfície magnética. Durante a escrita, impulsos elétricos eram convertidos em campos magnéticos que alteravam a orientação das partículas magnéticas em uma direção específica para representar um “0” ou em outra para representar um “1”. Na leitura, o processo se invertia: as variações magnéticas eram detectadas e “traduzidas” de volta para os 0s e 1s que o computador entendia.

A organização dos dados no disquete seguia uma geometria lógica. A superfície era dividida em trilhas concêntricas, numeradas de 0 (a mais externa) até o número máximo de trilhas do formato específico. Um disquete de 3,5 polegadas HD, por exemplo, possuía 80 trilhas por face.

Representação mostra estruturação de trilhas e setores onde dados são gravados no disquete (Imagem: Reprodução/Reprodução/RC700)

Cada trilha era subdividida em setores de tamanho fixo — geralmente 18 setores por trilha nos disquetes HD. Cada setor armazenava exatos 512 bytes de dados, a menor unidade que o computador conseguia ler ou escrever. A capacidade total era calculada através de uma fórmula simples: número de faces × número de trilhas × número de setores por trilha × 512 bytes por setor.

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O som inesquecível do disquete

Há sons que definem épocas inteiras, e o ruído do drive de disquete certamente é um deles. Aquele conjunto único de cliques, whirrs e zumbidos era a voz da tecnologia se comunicando com os usuários. Cada som tinha seu significado: o motor girando indicava que o disco estava sendo lido, os cliques rítmicos mostravam a cabeça se movendo entre trilhas e o silêncio final confirmava que a operação havia sido concluída.

Som dos disquetes é tão característico que é possível identificar o tipo de operação que está sendo executada apenas por ele (Imagem: Reprodução/Jacek Halicki)

O som do disquete origina-se de dois componentes mecânicos principais: o motor de rotação do disco e o motor de passo que movimentava as cabeças de leitura/escrita. A cada mudança de trilha, um “clique” ecoava, criando padrões sonoros dependendo de como os dados estavam organizados no disco. Usuários experientes conseguiam até mesmo diagnosticar problemas pelo som — um ruído mais áspero poderia indicar sujeira nas cabeças, enquanto cliques repetitivos sugeriam setores defeituosos.

Curiosamente, alguns entusiastas descobriram que era possível controlar precisamente estes motores para criar música. Utilizando placas Arduino, hackers criativos transformaram drives de disquete em instrumentos musicais, tocando desde clássicos como “A Marcha Imperial” até complexas composições eletrônicas. O princípio era simples: cada posição das 80 trilhas produzia uma frequência ligeiramente diferente, permitindo criar melodias através do movimento controlado das cabeças de leitura.

Diferentemente dos dispositivos de armazenamento silenciosos de hoje, o disquete proporcionava um feedback audível constante. Este aspecto sonoro era, em certa medida, reconfortante — você podia literalmente ouvir seu computador trabalhando. Em escritórios e escolas dos anos 1990, a sinfonia de múltiplos drives de disquete operando simultaneamente foi a trilha sonora característica da era da informática nascente.

 

Como o disquete impactou a indústria e a vida digital das pessoas

O disquete transformou a forma como o software chegava às mãos dos usuários. Antes de sua popularização, programas eram distribuídos principalmente através de cartões perfurados ou fitas magnéticas — métodos caros, lentos e pouco práticos para o usuário comum e sem conhecimento técnico. O disquete democratizou o acesso, distribuição e instalação dos programas de computador da época.

Talvez nenhum outro exemplo ilustre melhor o papel central do disquete na era pré-internet do que a instalação do Windows 95. Para instalar este sistema operacional, os usuários precisavam de nada menos que 13 disquetes na versão padrão, podendo chegar a 21 disquetes na versão completa com drivers e extras. Era um verdadeiro ritual tecnológico: inserir o primeiro disquete, aguardar a leitura, retirar cuidadosamente, inserir o próximo e repetir o processo por horas.

Windows 95 foi distribuído em até 21 disquetes, dependendo da versão comprada pelo usuário (Imagem: Reprodução/Asanagi)

Se um único disquete apresentasse problemas durante a instalação, todo o processo precisava ser reiniciado. Essa realidade transformava a instalação de um sistema operacional em uma experiência tensa e meticulosa, onde cada disquete era tratado como uma peça preciosa de um quebra-cabeças. Para colocar em perspectiva: instalar o Windows 11 atual exigiria mais de 18.000 disquetes.

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Os videogames também foram profundamente moldados pelos disquetes. Títulos icônicos como Doom, lançado em 1993, chegaram aos jogadores através de múltiplos disquetes cuidadosamente numerados. Cada um continha parte da experiência completa — texturas, sons, níveis — e a perda de um único quadradinho daqueles poderia significar a impossibilidade de jogar.

Essa limitação física criou uma cultura de cuidado e organização entre os jogadores. Era comum ver coleções de jogos organizadas em caixinhas especiais, com cada disquete etiquetado e protegido. A troca de jogos entre amigos se tornou um verdadeiro ritual social, ajudando a criar os primeiros networks informais de compartilhamento de software.

Doom chegou a ser distribuído gratuitamente em disquetes em sua versão shareware (Imagem: Reprodução/Pelle Wessman)

Na ausência de internet e dispositivos de armazenamento em massa, o disquete era praticamente a única forma de proteger dados importantes. Estudantes carregavam seus trabalhos escolares neles, profissionais faziam backup de documentos críticos e pequenas empresas dependiam deles para proteger informações valiosas. O dispositivo oferecia uma funcionalidade crucial: uma pequena aba que podia ser movida para proteger o disco contra gravação, garantindo que arquivos importantes não fossem acidentalmente apagados.

O disquete encontrou aplicações em contextos surpreendentes que perduraram muito além de sua era dourada. Até 2020, a frota de Boeing 747-400 da British Airways utilizava disquetes de 3,5 polegadas para carregar software de aviônicos críticos. Mais incrível que isso só o fato de que até hoje todo o tráfego aéreo dos EUA se apoia em disquetes e no Windows 95.

Conclusão

Hoje, quando clicamos no ícone “salvar” em qualquer programa de computador, raramente paramos para pensar que estamos olhando para a imagem de um disquete. É uma pequena ironia tecnológica que mostra como certas imagens se cristalizam no inconsciente coletivo: mesmo gerações que nunca viram um disquete real continuam usando sua representação como símbolo de salvamento de dados.

Para compreender verdadeiramente o legado do disquete, basta compará-lo com as tecnologias atuais. Um pen drive básico de 16 GB equivale a aproximadamente 11.378 disquetes de 1,44 MB. Os SSDs modernos, com capacidades medidas em terabytes, representam milhões de vezes mais espaço que um disquete. E o armazenamento em nuvem eliminou completamente as limitações físicas que definiram a era dos disquetes.

Mesmo com todo esse avanço, quem viveu a época dos disquetes lembra com muito carinho e emoção não só do som reconfortante dos dados sendo gravados, mas também como ele representou uma época repleta de descobertas e quando a computação começou a se tornar verdadeiramente acessível.

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By Elias de Mello

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