By Elias de Mello 
O medo de que Donald Trump ordene o “desligamento da internet” na União Europeia (UE), em meio à guerra comercial acirrada após o tarifaço, é cada vez maior na região, de acordo com o site Politico. O problema está na dependência digital quase total dos países do bloco em relação às empresas sediadas nos Estados Unidos.
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem publicada na segunda-feira (23), o sinal de alerta disparou quando a Microsoft bloqueou o email do promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, que havia solicitado a prisão do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. O corte veio após determinação da Casa Branca.
Como os EUA podem deixar a União Europeia sem internet?
Principais fornecedoras de serviços na nuvem para a UE, Google, Microsoft e Amazon dominam dois terços deste mercado na região. Dessa forma, eventuais mudanças na legislação americana, determinadas pelo presidente dos EUA, poderiam forçar tais provedores a bloquearem o fornecimento da tecnologia para o bloco.
- Isso poderia acontecer se o republicano quiser defender empresas do país de regulamentações e multas aplicadas por legisladores da União Europeia, conforme o relatório;
- Como a computação na nuvem proporciona armazenamento de dados e poder de processamento, um eventual bloqueio afetaria seriamente a infraestrutura digital essencial;
- Envio de mensagens, transmissões online, comunicações governamentais e processamento de dados industriais seriam alguns dos serviços impactados;
- Reguladores europeus também têm demonstrado preocupação quanto aos dados de cidadãos do continente armazenados em servidores americanos;
- Até mesmo as big techs estariam se preparando para o pior, segundo a reportagem, criando cláusulas contratuais que garantam a continuidade do serviço em caso de sanções da Casa Branca.
“Trump realmente odeia a Europa. Ele acha que todo o propósito da UE é ‘ferrar’ a América. A ideia de que ele possa ordenar uma interrupção ou fazer outra coisa que prejudique gravemente os interesses econômicos não é tão implausível quanto poderia ter soado há seis meses”, alertou o diretor de pesquisa do CERRE, Zach Meyers, em entrevista à publicação.
Já a professora da University College London, Cristina Caffarra, questiona se as big techs seriam capazes de resistir às ordens do governo. “Se essa dimensão política se tornar hostil, quão crível é que as empresas com as melhores intenções possam desafiar seu presidente?” indagou ela.
Como a Europa pode diminuir a dependência digital dos EUA?
Embora a pressão para que a UE deixe de ser dependente dos provedores americanos tenha crescido desde o início do segundo mandato do republicano, esta não será uma tarefa fácil nem barata. Recentemente, a proposta desenvolvida por um grupo de especialistas em tecnologia e economistas europeus começou a ganhar força.
A iniciativa “EuroStack” tem como objetivo tornar a Europa totalmente independente dos EUA, desde a infraestrutura até o software, passando pela priorização das empresas europeias em contratos públicos. Porém, estima-se que seriam necessários pelo menos € 300 bilhões em investimentos iniciais, o equivalente a R$ 1,9 trilhão pela cotação atual.
Outra estratégia é uma regulamentação em andamento na UE que poderia limitar a influência de Trump nas controladoras das plataformas na nuvem. Tal medida tem sido vista como temerária por alguns países, diante da possibilidade de retaliações da Casa Branca, atrasando o avanço dos debates.
Em meio às dúvidas, empresas que fornecem serviços na nuvem como Intermax Group, sediada na Holanda, e Exoscale, fundada na Suíça, estão conquistando clientes que anteriormente eram exclusivos de seus concorrentes instalados na América.
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